alienígenas, heróis e sapatos

Tem gente que escreve por puro talento, por ter o que dizer aos outros, pra acrescentar ao mundo. Eu não sou assim. Escrevo pra aplacar a raiva, expulsar o tédio, redecorar a vida, racionalizar as mágoas e recriar o dia a dia. É mais uma opção de vida pra quem se frustra constantemente com o cotidiano.

Hoje tive vontade de escrever porque me sinto sufocada por ilusões, por objetivos não-alcançados, pela força de vontade inexistente na minha personalidade. Todo ser humano é assim, eu suponho. Quando eu era pequena, mas bem pequena mesmo, eu tinha uma teoria: achava que nós éramos novela pros alienígenas. Até hoje acho que isso faz um certo sentido, afinal, as nossas vidas são tão pequenas e mesquinhas, cometemos tantos erros estúpidos e invariavelmente, acabamos rindo de nós mesmos no fim de tudo. Duvido que seres superiores sejam assim. Talvez eles nos acompanhem assim como acompanhamos "Caminho das Índias", e sofram por nós, torçam, e riam muito da nossa infinita ignorância (com a vantagem de verem a graça muuuito antes).

Esse semestre teremos projeto de calçados e já até pensei em alguns temas. Imaginem calçados inspirados no Ney Matogrosso ou no Raul Seixas? Dá pra pirar mesmo, colocar mensagens subliminares sobre ácido, ecstasy, maconha, além de criar um shape totalmente diferenciado em solados e saltos. Nada óbvio e superficial, tudo super estudado, detalhadérrimo e sem qualquer tipo de apologia ao uso de drogas.

E nessas horas eu lembro do Cazuza. Os heróis dele morreram de overdose, os meus, de AIDS, e isso dá uma péssima dimensão pra análises futuras. Onde vai parar uma pessoa cujos heróis morreram de AIDS? A gente, inevitavelmente, acaba seguindo pelo mesmo caminho de quem admiramos. Por isso tenho certeza de que somos da geração do abandono, da falta de diretrizes, da inversão de prioridades. Nossos ídolos seguiram por um caminho completamente louco e despropositado, mas pelo menos mudaram o mundo, criaram uma nova maneira de pensar, reordenaram a antiga ordem. E nós, onde vamos parar? Somos a cópia, da cópia, da cópia de quem gostaríamos de ser. E se isso não deprime, não sei o que de fato o faz.

É triste parar pra pensar na política, no caos contemporâneo, na incapacidade do ser humano de aprender com erros passados. E acho que foi por isso que escolhi o Design, pra tentar trazer um pouco de beleza pra esse mundo imundo (isso me lembra o Cadu).

É isso aí então. Guilherme Zaiden dos blogs! (HAHAAHAH!)

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1 comentários:

John Garan disse...

Engraçado... âmbos conseguimos traduzir em palavras tudo o que sentimos, só que nessa, eu estou no ensino médio e você é PhD.
xoxo